Hoje o dia acordou triste.
E temendo presenciar uma despedida,
o sol fizera-se tímido em surgir:
covardemente absconso
na muralha de nuvens cinzas e
hostis.
A cantoria aviária desaffinou
vigorosamente.
O barulho do mar insiste em enfadar
ondas esvaem-se em cada rebento
e, na areia, não mais imprimem
suas delicadas assinaturas.
A brisa do mar. Ah, a brisa do
mar...
marota, sussurra nos ouvidos
verdades e lembranças malquistas
que quedam-se em abandonar.
Poseidon descansa nas profundezas.
A tempestade é contumaz:
trovões ensurdecem a mente
raios cegam um coração
a chuva encharca as esperanças
diluindo-as na sádica realidade.
Arredores dilacerados
em palavras decrépitas e caducas.
Gentis significados outrora imputados
doravante
suspensos pela emotividade
reclamam sentido e existência.
Erros do passado – o dito e o não
dito.
Conglomerado de dúvidas e
inseguranças
mixados num coquetel de provações,
ansiosos por serem degustados
de uma só vez, a um só gole.
Neuralgia do rompimento:
insuportável dor
melancólico crepúsculo.
Desfalecido um sentimento declara:
– Aqui jaz o tempo da poesia!