sexta-feira, 15 de junho de 2012

Deleite




Sou fogo, suor, sangue, vinho: dos erros o mais nobre...
Não sou fogo o qual se brinque, suor a que se vanglorie, sangue que se prove e nem vinho que... se beba.
Adjunto a mim a vida se amarga quando menos se aperceba;
E quanto mais se afaste, a sede de dor cada vez mais lhe consome...

Corroo à minha volta pelo simples enlace do destino, singelo como um suspiro;
Tão logo as mesmas incorrerem no infortúnio de compartilhar o ar que respiro.
Ídolos? Desabam com minha presença não onisciente, não obstante traga o despertar,
Sou a visão dos cegos em um mundo onde todos possuem olhos, mas que não conseguem enxergar...

A crença já não se reduz somente a uma palavra vaga, sem sentido (um atavio).
Todavia, assim como transformada da água para o vinho,
Deixada de ser o alimento dos avarentos, dos fracos, 
Ainda serve de inebriante para os fortes, os fazendo sorrir com desdém e alvedrio...

Aqui de cima, os ares são mais revitalizadores, o odor compraz o mais crítico dos olfatos.
Um trono – um rei soberano – esbaldando-se em risos de seus parvos beatos...
Alacridade mórbida perante os reminiscentes sintomas de humanidade,
De algo que um dia fora conhecido pelo nome de racionalidade!

Dionísio da Silva (2011)

sábado, 2 de junho de 2012

Feliz aniversário!



Hoje me permito:
a sanidade,
a normalidade,
mentir desvairadamente
arriscar sem nenhuma temeridade;
errar,
acertar,
amar,
odiar,
tentar agradar a todos!
Compartilhar...
Abraçar meus inimigos,
Cuspir em meus amigos.
Achar que minha melhor companhia não é a soledade!
Admito:
persuadir e convencer!
Fazer-me crer em algo sem sentido algum,
embriagar-me de vida!
“Tudo posso no dia que me fortalece!” (sic!)
Hoje admito:
o pedantismo,
exalar sabedoria;
a diligência e a distração,
o afeto e o desapego,
dar esmolas!
A compaixão...
Hoje posso:
escrever a esmo
sem se pautar em qualidade.
Outorgo-me o esquecimento
de quem deveria importar
e lembrar-me de quem nunca importou...
Consinto neste dia,
acreditar em convenções sociais
e por crê-las
assinto-me em acreditar,
inclusive,
que hoje é meu dia!

Dionísio da Silva 16/09/11 (dia do aniversário do duplo)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Retorna-te a ti mesmo!



Oh altiva soledade, entrelaça-me novamente em teus braços
donde nem deveria sequer apartado
e quão um pérfido, ingrato, despido de remorsos
volvo indesejado.

Privado de espólios, extenuado, ressuscito à batalha ante seus olhos
coração talhado, orgulho verde amargo em frangalhos; 
robustecido... vez mais em ignorar a ignorância dos antolhos,
rogo-lhe: juntai-me as peças, organizai o quebra-cabeça, lacrai com ferrolhos.

Face o caldeirão da perdição, repleto de ninfas e eu ali único comensal como esteio,
vitimado por tantas volições, tentações, receios, cerceios, anseios...
Oh doce Afrodite és teu cinturão que me cega com tamanhos encantos e formosura!
Doravante posso enxergar a sequela do feitiço afável por provar sua ternura...

Soledade revogai tais desejos gregários de Eros; exprobráveis a uma vista mais elevada,
sentimentos partilhados pela plebe – devaneios incompetentes à nossa alçada
alimentando-se de nossas fraquezas radicam raízes profundas
rizoma este me torna oco: saturado com crateras de vontades moribundas!

Oh amantes que teimam em traí-la, me traindo com sedutora volúpia e brando suspiro
do jogo de deleites carnais se inicia e ulteriormente evadindo a isso me firo,
retornando a mim aquela vida regrada, sentina, com maestrias genuínas
oh, amaldiçoem-me por essas palavras, minhas mais dedicadas concubinas!

Feridas testemunhas de minha guerra, far-se-ão em mim seu castigo
oh soledade não ressentes em ludibriar-me como único amigo
e não me abandonai quando eu em farelos mesmo sabendo infido!
Deidade cintila o caminho, reorienta-me empós ter me perdido e perdido...

Desejos e sentimentos acoimam em mim o mais temeroso e vulgar dos seres,
sugando-me da solidão do cume da montanha para o rebanho da superfície terrena.
Façais de conta que deste conto algo tenha valido a pena,
pois atenderei a seu pedido se a mim soledade tu requeres.

Aguardando a nobreza de sua parcimônia
não sem antes suprimir irreparável vergonha,
pergunto-te gentilmente: consentir-te-ia em reaver meu vigor?
Em troca de meu sangue prometo-lhe não mais desfrutar de pífio sabor...

Oh soledade, tenhas ciência de minha mais densa veleidade
e nunca tereis ao menos duvidado da preeminência dessa vontade!
Abole o quebra ritmo, o escravizador, glutona que tu és devoradora de sortilégios,
desarraigando, com ímpeto, de todas as pusilanimidades o mais sublime dos sacrilégios:
aquilo que outrora se ousou chamar de amor...

                                                        Dionísio da Silva 09/05/2012