Oh altiva soledade, entrelaça-me
novamente em teus braços
donde nem deveria sequer apartado
e quão um pérfido, ingrato, despido de remorsos
volvo indesejado.
Privado de espólios, extenuado, ressuscito
à batalha ante seus olhos
coração talhado, orgulho verde amargo em
frangalhos;
robustecido... vez mais em ignorar a
ignorância dos antolhos,
rogo-lhe: juntai-me as peças, organizai
o quebra-cabeça, lacrai com ferrolhos.
Face o caldeirão da perdição, repleto de
ninfas e eu ali único comensal como esteio,
vitimado por tantas volições, tentações,
receios, cerceios, anseios...
Oh doce Afrodite és teu cinturão que me
cega com tamanhos encantos e formosura!
Doravante posso enxergar a sequela do
feitiço afável por provar sua ternura...
Soledade revogai tais desejos gregários de
Eros; exprobráveis a uma vista mais elevada,
sentimentos partilhados pela plebe –
devaneios incompetentes à nossa alçada
alimentando-se de nossas fraquezas radicam
raízes profundas
rizoma este me torna oco: saturado com
crateras de vontades moribundas!
Oh amantes que teimam em traí-la, me
traindo com sedutora volúpia e brando suspiro
do jogo de deleites carnais se inicia e
ulteriormente evadindo a isso me firo,
retornando a mim aquela vida regrada,
sentina, com maestrias genuínas
oh, amaldiçoem-me por essas palavras, minhas
mais dedicadas concubinas!
Feridas testemunhas de minha guerra,
far-se-ão em mim seu castigo
oh soledade não ressentes em ludibriar-me
como único amigo
e não me abandonai quando eu em farelos mesmo
sabendo infido!
Deidade cintila o caminho, reorienta-me
empós ter me perdido e perdido...
Desejos e sentimentos acoimam em mim o
mais temeroso e vulgar dos seres,
sugando-me da solidão do cume da
montanha para o rebanho da superfície terrena.
Façais de conta que deste conto algo
tenha valido a pena,
pois atenderei a seu pedido se a mim
soledade tu requeres.
Aguardando a nobreza de sua parcimônia
não sem antes suprimir irreparável vergonha,
pergunto-te gentilmente: consentir-te-ia
em reaver meu vigor?
Em troca de meu sangue prometo-lhe não mais
desfrutar de pífio sabor...
Oh soledade, tenhas ciência de minha
mais densa veleidade
e nunca tereis ao menos duvidado da preeminência
dessa vontade!
Abole o quebra ritmo, o escravizador, glutona
que tu és devoradora de sortilégios,
desarraigando, com ímpeto, de todas as pusilanimidades
o mais sublime dos sacrilégios:
aquilo que outrora se ousou chamar de
amor...
Dionísio da Silva 09/05/2012
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