sexta-feira, 1 de junho de 2012

Retorna-te a ti mesmo!



Oh altiva soledade, entrelaça-me novamente em teus braços
donde nem deveria sequer apartado
e quão um pérfido, ingrato, despido de remorsos
volvo indesejado.

Privado de espólios, extenuado, ressuscito à batalha ante seus olhos
coração talhado, orgulho verde amargo em frangalhos; 
robustecido... vez mais em ignorar a ignorância dos antolhos,
rogo-lhe: juntai-me as peças, organizai o quebra-cabeça, lacrai com ferrolhos.

Face o caldeirão da perdição, repleto de ninfas e eu ali único comensal como esteio,
vitimado por tantas volições, tentações, receios, cerceios, anseios...
Oh doce Afrodite és teu cinturão que me cega com tamanhos encantos e formosura!
Doravante posso enxergar a sequela do feitiço afável por provar sua ternura...

Soledade revogai tais desejos gregários de Eros; exprobráveis a uma vista mais elevada,
sentimentos partilhados pela plebe – devaneios incompetentes à nossa alçada
alimentando-se de nossas fraquezas radicam raízes profundas
rizoma este me torna oco: saturado com crateras de vontades moribundas!

Oh amantes que teimam em traí-la, me traindo com sedutora volúpia e brando suspiro
do jogo de deleites carnais se inicia e ulteriormente evadindo a isso me firo,
retornando a mim aquela vida regrada, sentina, com maestrias genuínas
oh, amaldiçoem-me por essas palavras, minhas mais dedicadas concubinas!

Feridas testemunhas de minha guerra, far-se-ão em mim seu castigo
oh soledade não ressentes em ludibriar-me como único amigo
e não me abandonai quando eu em farelos mesmo sabendo infido!
Deidade cintila o caminho, reorienta-me empós ter me perdido e perdido...

Desejos e sentimentos acoimam em mim o mais temeroso e vulgar dos seres,
sugando-me da solidão do cume da montanha para o rebanho da superfície terrena.
Façais de conta que deste conto algo tenha valido a pena,
pois atenderei a seu pedido se a mim soledade tu requeres.

Aguardando a nobreza de sua parcimônia
não sem antes suprimir irreparável vergonha,
pergunto-te gentilmente: consentir-te-ia em reaver meu vigor?
Em troca de meu sangue prometo-lhe não mais desfrutar de pífio sabor...

Oh soledade, tenhas ciência de minha mais densa veleidade
e nunca tereis ao menos duvidado da preeminência dessa vontade!
Abole o quebra ritmo, o escravizador, glutona que tu és devoradora de sortilégios,
desarraigando, com ímpeto, de todas as pusilanimidades o mais sublime dos sacrilégios:
aquilo que outrora se ousou chamar de amor...

                                                        Dionísio da Silva 09/05/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário