quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Poética da tristeza



Sólidas memórias,
ejetando felpas flamejantes 
nos impedem esquecer.
N’alma que chora
lágrimas de fagulhas
escaldam o corpo
em um vazio morto e frio.

Na tristeza a dor
enxerga sua beleza
a natureza de seu ser.
Implora!
Sai da sombra agora,
pois sob o sol renasce a chama
da criança que busca na sina
uma razão para sorrir.

Esperança não tarda
fazendo do vento rebelde menino
sopro que assim dobra o sino:
na ida um som se perde em desespero
na desdobra, o conselho em uníssono:
sempre é possível acreditar em um novo amor,
seja para esconder qual dor for... 

Dionísio da Silva 25/10/2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Raio de sol




Meu raio de sol,
entrai por essa porta,
alegrai o meu dia,
esquentai a minha existência
pela vida que me traz
donde cresce meu amor por ti!

Meu raio de sol,
que me atingis no peito,
aquecei e fomentai minha paixão
refazendo a bater,
trazendo de volta à vida pelo fumego,
este fadigado coração!

Meu raio de sol,
debandai todas as memórias,
derretei todas as falsas glórias,
concedei-me minha maior vitória,
faz-me ser inteiro seu!

Meu raio de sol,
iluminai meus pensamentos,
evaporai todos os tormentos,
transbordai-me dos mais briosos
e mais verdadeiros sentimentos!

Meu raio de sol,
meu e só meu
pedaço de vida
para agora e toda vida
a saída de minha solidão!

Meu raio de sol,
encantai-me com seus fios reluzentes,
dourados criadores d’ouro,
trazendo-me amplo tesouro
erário que nunca abdicarei!

Meu raio de sol,
meu amarelo vida,
entrai por essa porta
inflamai minha visão
e me cegai de ardente paixão!

Meu raio de sol,
estrela minha tão querida,
estrela única pois preferida
maior astro do palco de minha vida!

Meu amarelo Sol,
meu raio de ilusão,
minha luz,
meu raio de sol!
Sê meu... e só meu...


Dionísio da Silva 17/07/2012

Ralo




Dois corpos nus no chuveiro,
trágico final de roteiro
e sem direito a ter ensaiado;
sovado,
sangrado,
mas verdadeiro!
Lágrimas derramadas se confundem com a água que cai;
já vai...
Lavando minha alma sublevada;
é levada...
Repleta de sentimento e memória;
uma história...
E assim vou me junto embora sem halo,
escorrendo isolado em minha dor pelo...

Dionísio da Silva



O hiato de nós dois



Um hiato,
entre mim e você.
Um vazio,
que não dá para se ter.
Um espaço,
distante e intransponível.
Uma fenda,
fendida e irreparável.
Um sentir,
onde o inatingível se prende.
Um corte,
em que o laço se rompe.
Um poder,
pelo qual o sentimento se perde.
Um desejo,
condenado a frustração.
Um coração,
fadado a fenecer.
Uma chama,
que teima em se apagar.
Uma saudade,
à qual palavra nenhuma descreve.
Um empecilho,
de meu amor por você!
Dionísio da Silva

Entre mim e você


Entre mim e você

Um beijo,
uma discussão.
– Boba!
– Tonto!
Um sorriso,
uma desculpa,
aceita...
E entre abraço
e outro,
outro,
mal entendido.
Uma vírgula,
ou um ponto (.) final?
Nosso amor é exclamação!
Te amar...
Amar-te?
Te odiar...
Odiar-te?
Entre beijos
e desentendimentos...
brigar e conquistar
e reconquistar
e te ter.
Te ler...
e tentar,
compreender.
Não saber...
Como?
Te reconquistar?
Amar,
sem saber...
E sendo
(possível ?)
sem ter você?
Te reconquisto
e me refaço,
por etapas,
me reconquistando
e te refazendo
em memórias
de um dia,
qualquer,
como aqueles,
inesquecíveis,
que te amei,
e continuo,
amando.

Dionísio da Silva

Ante sua presença



Nem do campo, a rosa mais jeitosa  
Diante de ti merece colação
Perante sua presença os céus cairão 
Pelas bandas, de forma não amistosa.  

A alegre manhã torna-se rançosa   
Raios solares tomando a pretidão
Da lua, apenas domina a escuridão 
em contato com a ninfa formosa.

A terra decretou o fim da jornada
As nuvens travestidas de temor
Quando avistam a ti, tem-se a calada.

No mar, a calmaria acalmando a dor,
Da natureza resta agora o nada,
Ímpar a tua beleza e nosso amor.

Distante, mas próxima


Distante, mas próxima

Queria dormir ouvindo suas palavras,
para que guiassem...
meus sonhos,
de novo,
até você.
Fazendo-me não despertar,
da triste realidade:
de acordar,
não te ver
e não te ter.
Uma flecha disparada em nuvens,
de incertezas...
Vastidão do mar branco,
fugaz, mas...
agitado.
E firme na esperança de chegar
aos seus braços,
voo...
Na expectativa de atingir...
seu coração,
sofro...
Sem forças e
no insucesso de alcançá-lo...
no mar me debato,
me afogo...
morro.
E renasço,
junto de ti;
em seu olhar.
Uma lágrima escorre,
suavemente,
de seu rosto,
derramando você,
em mim.
Provendo de vida um sentimento,
unindo o que um dia foram um só...
E por mais longe que esteja vagando,
sinto você presente,
em mim.
Um presente!
Se não a minha vida;
a este amor imortalizar!
Doce e maravilhoso;
como um sonho...
com você.

Dionísio da Silva

Antropologia urbana



Dias passam, repassam, transpassam... desgraçam,
Sorrateiramente, despercebidamente... e eu aqui descrente.
Uma casa, um prédio, outra casa, pessoas, outro calçada, rua, prédio, outra,
Calçada, uma casa, outro prédio, pessoas, outra casa, outro prédio – cheiro de tédio!
Pavimento, cimento, abafamento calorento e cinzento – claustrofobia!
Zuuuum, vooom, uóóóm, bibi, fóóóó, uõuu uõuu, au au...
Carros, caminhões, motos, buzinas, sirenes, cachorros – metrópole folia!
Zuuuum, vooom, uóóóm, bibi, fóóóó, pááá, #$%&!!!
Carros, caminhões, motos, buzinas, acidente, xingamentos – triste rotina noite e dia!
Congestionamento, desacatamento, atropelamento violento e sangrento – agorafobia!
Andando, trombando, escutando, cheirando e observando:
Uns trabalhando, outros andando, música, fumaça e artistas de rua,
Fora o lixo, a placa, o semáforo, vermelho! Buzina! Culpa da mulher seminua...
Pelas ruas, nuas, pobres almas e suas falcatruas:
A boa ou a faminta, a que magoa ou a distinta, a que perdoa ou a que minta,
Ou a isso TUDO e mais um pouco – LOUCO!
Diversos grupos, diversas tribos, diversos gêneros, diversos idades – diversidade!
Trilhando caminhos diferentes, reiterando destinos convergentes – mortalidade!
Mesquinhos mas complacentes nos ninhos; anjinhos mas maliciosamente nus, sozinhos.
Pequenos produtos de seus meios, pequenos redutos de anseios – pequenininhos...
Morte no noticiário!
Outro cai no conto do vigário!
De bandido viro tributário!
Político virou sinônimo de mercenário!
Polícia, do cidadão, agora é adversário!
Igreja em cada esquina enriquecendo o seu erário!
É nóis aqui tragicamente temerário!
Solitário.
Tensão, união, desunião, solução? Guerra ou paz?
Acordo! Do desacordo! Cadê o acordo?
Pronto pro confronto?
Cru?
Dos barracos à cobertura duplex,
Sarrafos em uns, em outros cafunés...
Discursos obtusos, escusos seus usos... abusos inclusos...
Entre! Saia! Entre encontros, saia desencontros?
O caos da cidade nos deixa tontos...
Ideologia urbana?
O know- how da sobrevivência, a epistemologia interurbana.
Ainda assim contente e abstinente, eu viso à esperança,
Embora assim, intermitente, e sem dente: o sorriso da criança...

Franco 29/05/2012